domingo, 5 de janeiro de 2014

Equipamentos obsoletos comprometem a qualidade


É comum ver obras de pavimentação no Brasil ser executada por equipamentos velhos e ineficientes. Combinados com erros nos procedimentos de execução, o uso de máquinas antigas e obsoletas em tecnologia contribuem para a ocorrência de erros construtivos e imperfeições na pavimentação.
Cito alguns exemplos bastante comuns de problemas oriundos de maquinários obsoletos que são corriqueiros e que afetam a qualidade final da obra.

USINAS DE ASFALTO

Equipamento muito importante no processo de execução de obras de pavimentação. Recebe os agregados e o ligante asfáltico, dosa cada material conforme formulação, executa a mistura de todos estes insumos e descarrega o massa asfáltica final pronta a um caminhão. Todo o seu funcionamento é automatizado e há filtragem total dos gases gerados no processo de secagem e aquecimento dos agregados minerais.
As usinas mais antigas não secam corretamente os agregados, não dosam corretamente a proporção ideal dos materiais, misturam mal o ligante asfáltico com os insumos minerais, apresentam problemas de controle de temperatura e também na filtragem dos gases.
Quando não há um controle em relação às temperaturas muito elevadas de produção ocorre oxidação do asfalto. Fator este que reduz a vida útil de nossas estradas e vias. A mistura quando não é bem executada favorece a segregação do material, distorcendo o traço específico do projeto. Problemas no sistema de filtragem dos gases podem causar danos ambientais e o embargo de funcionamento da planta pelos órgãos fiscalizadores. Algumas usinas mais antigas apresentam ainda o sistema de filtragem por via úmida, que gera um lodo residual sem destinação posterior, resultando em um passivo ambiental.
Atualmente há usinas de menor capacidade de produção (até 50 ton/h) dotadas com tecnologia de ponta para que haja qualidade no processo de produção do asfalto, desde a dosagem, secagem e mistura dos insumos com controle total na filtragem dos gases.
Usina de Asfalto fabricada em 1986 com filtro via úmida e tanque de lodo residual, ainda em operação no Centro-oeste.
 
VIBROACABADORAS DE ASFALTO
A vibroacabadora (ou pavimentadora) de asfalto distribui a massa asfáltica, define a espessura e o nivelamento da camada, aplica a primeira compactação através da mesa compactadora, que incorpora mecanismos de aquecimento e pré-compactação.
Alguns fatores dificultam este processo, considerando a necessidade de fazê-lo com rapidez para evitar o resfriamento do material asfáltico. Uma enorme quantidade de vibroacabadoras existente em nosso país é antiga, o que ocasiona falhas de funcionamento nos sistemas de aquecimento e de compactação. Quando há problemas em relação à temperatura o resultado é a solidificação prematura do asfalto por baixas temperaturas. Isto faz com que haja a impossibilidade de compactação, o que causará problemas futuros em função de vazios existentes que em períodos chuvosos serão preenchidos com água. Com as forças oriundas pelo tráfego, é criada uma força hidráulica ascendente que dá início ao surgimento de buracos, que crescerão com o tempo. Sendo assim, questão de (pouco) tempo para que o pavimento seja destruído.
Se forem utilizadas máquinas pavimentadoras com sistema de pré-compactação e aquecimento em condições normais de funcionamento, teremos um asfalto aquecido e com certa compactação inicial, em condições ideais para receber os rolos compactadores de asfalto.
 
Vibroacabadora fabricada em 1978 em operação no interior do Rio Grande do Sul
 


ROLOS COMPACTADORES DE ASFALTO
Após a passagem da vibroacabadora, é necessário atingir a compactação máxima da camada asfáltica. É fundamental a utilização de rolos específicos para asfalto. Entretanto, se verifica no Brasil uma população de rolos muito velhos e tecnologicamente obsoletos.
Os rolos para asfalto necessitam de um sistema de espargimento de água para evitar a aderência da massa asfáltica quente nos cilindros. Os equipamentos antigos muitas vezes não medem a quantidade de água aplicada. Ao utilizar água em demasia, a capa asfáltica sofre um resfriamento súbito prejudicial ao processo de compactação, surgindo vazios dentro da camada que reduzem a vida útil do pavimento.
Em rolo de pneus, não há um controle efetivo da pressão dos pneus. Dessa forma, os rolos passam com pressões inadequadas, em excesso ou em baixa, não executando a sua função de selar, vedar e dar o acabamento final adequado à camada asfáltica. Os rolos produzidos atualmente possuem tanque para aditivos e sistema de aspersão para limpeza dos pneus, evitando a figura do operário adicionando o produto manualmente durante a operação, caminhando em frente e atrás do rolo em movimentação, o que já causou inúmeros acidentes fatais em obras.  
Rolo de Pneus antigo executando a compactação em obras viárias em Porto Alegre
 
É preocupante ver o dinheiro que estamos aportando seja tão mal investido na infraestrutura viária do país. Somos um dos povos que mais paga impostos no mundo e precisamos exigir que haja retorno a altura. A carência em infraestrutura é um gargalo para o crescimento do Brasil e a má qualidade do asfalto prejudica a qualidade de vida da população nas cidades.
As autoridades executoras e fiscalizadoras dos projetos rodoviários estão exigindo equipamentos apropriados para a perfeita execução de obras de qualidade e vida útil de longa duração?
O corpo técnico de órgãos como DNIT, ANTT, DAER (Estaduais) e secretarias de obras municipais conhecem os equipamentos e os visitam para evitar os problemas citados?