Tive algumas oportunidades de visitar
obras rodoviárias na Alemanha, país conhecido por ter rodovias entre as
melhores do mundo. Em algumas delas, as famosas Autobahn, em determinados trechos não há limite de velocidade e é
comum ver carros esportivos “passeando” a 300 km/h. O projeto em certos locais
foi feito em linha reta, com três ou quatro faixas em cada pista, onde é
permitida tal velocidade. O pavimento não apresenta nenhuma imperfeição e há
barreiras de segurança em toda a sua extensão. E claro, os carros alemães
também são os melhores do mundo.
Alguns cuidados tomados durante a
etapa de execução das obras não são difíceis de serem implementadas em um país
como o Brasil. Se um dia tivemos a capacidade técnica de executar obras do
porte da Usina Hidrelétrica de Itaipú e da Ponte Rio-Niterói, podemos também
construir rodovias de qualidade.
Em agosto de 2011 visitei uma obra de
restauração rodoviária próxima a cidade de Ludwigshafen. Um local de tráfego
intenso e pesado, cujo projeto de manutenção previa a fresagem do pavimento em
poucos centímetros com aplicação de uma nova camada asfáltica. Diversos
pequenos detalhes me chamaram a atenção, os quais estão detalhados um a um
abaixo:
1)
Alimentador
de Asfalto: um equipamento bastante importante para uma pavimentação de
qualidade em obras rodoviárias de maior porte, como uma duplicação de rodovia. O
alimentador recebe o concreto asfáltico descarregado pelo caminhão e o
transfere para a vibroacabadora de asfalto. As principais funções do
alimentador é manter uma constante alimentação do asfalto e evitar choques do
caminhão com a vibroacabadora, estes que acabam danificando equipamento e
provocando erros de execução na pavimentação.
Um silo de maior capacidade pode receber toda a descarga de um caminhão.
Já a vibroacabadora não possui espaço físico para tal, assim o caminhão acaba
basculhando aos poucos o material para a máquina. No Brasil ainda não há a
utilização deste equipamento e é muito comum falhas de execução em função de
choques de caminhão com a vibroacabadora.
2)
A
aplicação do asfalto utilizava sistema de nivelamento eletrônico por sensor
ultrassônico. Este tipo de nivelamento é bastante simples e já é utilizado no
Brasil em muitas obras. A pista a ser pavimentada deve ter como referência a
faixa já existente. Assim, no painel do sistema de nivelamento, é selecionado o
caimento ou a porcentagem de inclinação que a mesa compactadora deve seguir
durante a pavimentação. O sensor ultrassônico apresenta como vantagem em
relação aos sistemas de nivelamento mecânico por esqui o fato de não sofrer
atritos, assim possui maior vida útil.
3) A
qualidade e o ótimo acabamento após a aplicação na pista é claro e visível.
4)
Na
compactação asfáltica, os operadores dos rolos mudavam de faixa na parte quente
(próximo a vibroacabadora de asfalto) deixando marcas no asfalto. O correto é
trocar de faixa o quanto mais distante da vibroacabadora. Mas não é um erro tão
grave e na sequência os riscos já eram “apagados” com as passadas paralelas dos
compactadores.
5)
Bastante
interessante os cuidados em relação aos bueiros da rodovia. Estes eram
sinalizados antes da aplicação do asfalto. Colocava-se uma tampa metálica sobre
o bueiro e após a pavimentação era feita a retirada da tampa e a limpeza.
6)
Os
tradicionais rasteleiros existem até na Alemanha. Mas em menor número. Com o
uso do sistema de nivelamento, praticamente não há material sendo despejado
além do limite da largura pavimentada.
7)
Durante
o trabalho de recuperação do pavimento, foram posicionadas faixas de
sinalização temporárias. Uma simples fita que após os trabalhos é facilmente
removida. Enquanto que no Brasil costuma-se pintar faixas temporárias, que
depois são mal apagadas, resultando em um serviço “porco” e mal feito. Muito
mais simples aplicar estes tipos de fita, não?!
8)
O
cuidado em relação a segurança também é grande. Todos os funcionários e
visitantes precisam vestir um colete de sinalização. O funcionário responsável
pela aplicação no trecho, uma espécie de encarregado, orienta que não devemos
caminhar por fora da área circulada e que a travessia da pista deve ser feita
em fila indiana, pessoa por pessoa. É passada também a ordem de nunca nos
atravessarmos em frente aos rolos compactadores, ficando permitido apenas a
aproximação lateral. Os carros das empresas que trabalham no trecho também são
identificados com imãs reflexivos removíveis.
9)
Pra
finalizar, outro detalhe técnico me chamou a atenção. Estacionamos o carro em
uma pequena ruela que terminava em uma via secundária de acesso a rodovia
principal. Mesmo sendo um caminho de baixíssimo tráfego, de acesso a uma área
rural, havia asfaltamento. No entanto, a composição de agregados na mistura é
de seixo rolado. Pedras arredondadas encontradas em rios, e que não são
recomendadas para a utilização em pavimentação asfáltica por não terem cantos
quebradiços que favorecem a aglutinação da mistura. Porém, por se tratar de uma
ruela em um local sem tráfego, tornou-se uma solução mais barata para a
aplicação do asfalto. O processo de britagem de agregados envolve custos, e
utilizar um material proveniente da natureza é obviamente mais econômico. Por
ser uma via sem previsão de tráfego pesado e intenso, tornou-se uma solução barata
para dar fim ao barro.