A falta de políticas de preservação de
pavimentos é uma das razões pelas quais a pavimentação brasileira no geral é de
baixa qualidade e de pouca durabilidade. No Brasil as concessionárias privadas de
rodovias adotam técnicas de preservação de pavimentos em maior
escala justamente para prolongar a vida útil da camada asfáltica e obter melhor
custo-benefício em relação à manutenção ao longo dos anos.
O que é exatamente a preservação de pavimentos?
É um conjunto de técnicas que busca minimizar os custos de manutenção no médio
e longo prazo, com aumento da vida útil e preservação da qualidade funcional do
pavimento. Para entender melhor de uma forma resumida basta visualizar os
gráficos mais abaixo. O primeiro mostra dados publicados pela PPRA (Pavement
Preservation and Recycling Alliance), uma aliança nos Estados Unidos que
une três importantes entidades: AEMA (Asphalt Emulsion Manufacturers
Association), ISSA (International Slurry Surfacing Association) e
ARRA (Asphalt Recycling and Reclamation Association). Ou seja, entidades
dos setores de emulsão asfáltica, lama asfáltica e reciclagem. A malha viária pavimentada
dos Estados Unidos é muito maior em relação ao Brasil, o que necessita de
técnicas de preservação para evitar que haja degradações com custos proibitivos
de reabilitação posterior.
A execução de
manutenções preventivas aumenta a vida útil do pavimento, evita altos custos de
manutenções corretivas e prolonga a vida útil da estrutura da rodovia.
O seguinte gráfico apresenta os custos locais
do estado do Hawaii, nos Estados Unidos. Mesmo com diferenças de custos
unitários em comparação ao Brasil e da unidade de medida distinta, é fácil
observar a diferença de custos entre as intervenções. Quando o pavimento está
em bom estado, o custo de preservação é baixo. Quando o estado é regular (fair),
o custo para refazer a parte superficial já aumenta em mais de 3 vezes. Quando
o estado do pavimento é ruim (poor), o custo é cerca de 8 vezes maior em
relação à preservação inicial. Quando o pavimento é péssimo (failed), o custo é
de mais de 15 vezes maior para a recuperação.
Exemplo de
custos nos Estados Unidos comprovam que o melhor custo-benefício em termos de
manutenção para um pavimento asfáltico ao longo dos anos é a preservação
inicial.
REALIDADE DO BRASIL
Qual seria a melhor técnica para preservação inicial
de pavimentos no Brasil? O microrrevestimento asfáltico à frio, já adotado em
larga escala pelas concessionárias de rodovias mas ainda em baixa escala pelo
poder público. A técnica que aplica em
temperatura ambiente uma camada delgada de agregados miúdos e emulsão asfáltica
é de rápida e fácil execução, podendo ser utilizada em qualquer tipo de obra de
pavimentação onde esteja iniciando um processo de degradação superficial do
pavimento. Não apenas em rodovias movimentadas, mas também em avenidas e ruas dentro
de cidades, em estradas vicinais, etc. Segundo números da PPRA, o uso do
microrrevestimento pode reduzir os custos do ciclo de vida entre 25% a 45% em
comparação com os métodos tradicionais de recapeamento. Outro benefício é a
redução em até 35% das matérias-primas utilizadas na pavimentação.
O uso do
microrrevestimento cria uma espécie de proteção que prolonga a vida útil da
capa asfáltica de rolamento e mantem preservadas as camadas estruturais do
pavimento.
Em vias de baixo tráfego o microrrevestimento
pode ser uma excelente solução caso haja uma base mais reforçada abaixo,
substituindo justamente a camada mais cara da estrutura: a capa asfáltica de
rolamento, construída com CBUQ (concreto betuminoso usinada a quente). Vários
países já adotam para estradas de baixo tráfego a solução de construção de
camada de base reforçada com emulsão asfáltica (em vez de bases cimentadas, que
sofrem com trincas de retração que refletem para a capa de rolamento) e
aplicação de microrrevestimento em substituição às camadas asfálticas
convencionais em CBUQ, obtendo um pavimento de qualidade mesmo a um custo muito
mais baixo. No Brasil onde mais de 80% das estradas ainda não são pavimentadas
e muitas cidades ainda sofrem com poucas vias asfaltadas, a solução envolvendo
camadas estabilizadas com emulsão e microrrevestimento pode ser uma excelente
alternativa e o início de uma revolução para pavimentar o país onde menos de
15% das estradas são pavimentadas.
QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS DE TÉCNICAS?
Embora a literatura técnica internacional seja
muito ampla, há uma convergência para determinadas técnicas. Em uma condição do
pavimento classificado entre ótimo e bom, o uso do microrrevestimento à frio é
bastante disseminado a nível mundial, embora haja outras técnicas como chip
and seal (tratamento superficial), ultra thin HMA (camada asfáltica a
quente ultra-delgada) e slurry seal (lama asfáltica). Em uma condição do
pavimento entre regular e bom, ocorre a remoção de uma certa espessura através
da fresagem asfáltica e a execução de uma nova camada asfáltica a quente. No
Brasil é a técnica mais utillizada até mesmo quando o nível de degradação é
maior, quando há também problemas estruturais. Tecnicamente não é a
recomendação quando há problemas nas camadas de base ou falta de capacidade de
suporte das mesmas.
Em muitos países é adotada a técnica da
reciclagem rasa (Cold-in Place Recycling, chamada também de reciclagem
CIR), que é o corte, mistura e homogeneização somente da camada asfáltica no
modo frio (temperatura ambiente, sem aquecimento). No Brasil a dificuldade é a
ausência de equipamentos que executam tal técnica e a falta de homogeneidade
das camadas asfálticas em nossas rodovias.
Por outro lado, o Brasil está bem equipado de máquinas
recicladoras para a aplicação FDR (Full Depth Reclamation, ou reciclagem
FDR). Conhecido também como reciclagem profunda ou reciclagem in-situ,
esta técnica utiliza o equipamento para cortar, misturar e tornar homogênea as
camadas granulares de base e a camada asfáltica em uma única camada
intermediária do pavimento. A grande vantagem é poder adicionar materiais de
reforço, tais como cimento, emulsão asfáltica ou espuma de asfalto, melhorando
as propriedades técnicas e aumentando a capacidade estrutural do pavimento.
O uso de
técnicas corretas permitem prolongar a vida útil do pavimento assim como
melhorar a sua condição de acordo com o nível de degradação.
A reciclagem
profunda (FDR) de pavimentos asfálticas é uma técnica excelente para
recuperação estrutural. Nesta foto, a adição de emulsão asfáltica sobre uma
base granular cimentada com problemas estruturais em função da disseminação de
trincas por retração.
POR QUE UTILIZAR AS TÉCNICAS CORRETAS?
Como já mencionado anteriormente, a adoção de
políticas de preservação de pavimentos com técnicas para manutenção preventiva reduz
os custos e prolonga a vida útil de uma rodovia. Assim evitando chegar ao
patamar catastrófico que o Brasil já atingiu, onde grande parte das rodovias
pavimentadas estão em estado regular, ruim ou péssimo, o que exige um orçamento
bilionário para a manutenção corretiva necessária para deixar as rodovias em um
estado minimamente aceitável de qualidade.
Os
gráficos abaixo divulgados pela PPRA ilustram de maneira ainda mais clara a
questão da política da preservação de pavimentos. Nos Estados Unidos, os
pavimentos são projetados para durar pelo menos 15 anos, até atingirem a
condição entre regular (fair) e ruim (poor).
Nos primeiros 75% da vida útil da rodovia, a
qualidade diminui cerca de 40%. Já nos próximos 12% da vida útil, a qualidade
diminui mais 40%. Há um ponto de aceleração da deterioração quando a rodovia
atinge um estado entre regular e ruim, onde a reabilitação/reconstrução são as
únicas opções tecnicamente viáveis.
Investindo em tratamentos preventivos, os
proprietários da rodovia (poder público ou concessionária de rodovia) prolongam
a vida do pavimento de maneira barata.
Ao realizar os tratamentos corretos ao longo do
tempo, as rodovias podem obter 40 anos ou mais de vida útil. A base é mantida
intacta, desde que haja também o controle do peso do tráfego que passa pela
via.
Além disso, quando boas estradas permanecem
boas, elas passam mais tempo acima da “linha de reclamação” (complaint line)
entre as condições regular (fair) e boa (good). Assim reduzindo a
manutenção, diminuindo os custos do usuário e levando a moradores, empresas e
contribuintes mais satisfeitos. A gerência de pavimentos é fundamental para que
haja essas intervenções no tempo certo.
Os custos entre cada tipo de intervenção também comprovam que a preservação de pavimentos com tratamentos iniciais adequados é questão de boa gestão. Segundo a PPRA, a cada US$ 2 investidos na manutenção preventiva na fase inicial de degradação (representado na curva em cor azul), seriam necessários entre US$ 4 e US$ 8 no caso de uma intervenção de recapeio com fresagem e nova pavimentação (representado na curva em cor verde). Já no caso de uma intervenção estrutural, o custo pode variar entre US$ 12 e US$ 18 (representado na curva em cor laranja) considerando reciclagem profunda FDR ou reconstrução total do pavimento.
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