quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cuidados na Pavimentação


Serviços de construção, manutenção e reabilitação viária, este último também conhecido como recapeamento ou recapagem, são essenciais para melhorar a qualidade de vida da população. No entanto, precisam ser realizadas da maneira correta.
As estradas, ruas e avenidas sofrem um processo natural de envelhecimento e desgaste. A deterioração de pavimentos asfálticos geram transtornos a população. Para solucioná-las, muitas vezes são executados serviços sem planejamento técnico adequado, de resultado final ruim que gera retrabalho e prejuízos financeiros.
É preciso repensar a forma com quem as obras de pavimentação e recapeamento são realizadas em todo o Brasil. É imprescindível que o serviço seja de qualidade, tanto no projeto quanto na execução.
Muitos cuidados precisam ser tomados em todas as etapas construtivas. Selecionei alguns problemas que vivenciei como engenheiro de aplicação e que são bastante comuns em obras de pavimentação pelo Brasil:
1.      Compactação de base: etapa em que omissões e falta de cuidados são frequentes e notórios. Uma compactação mal executada pode resultar em afundamentos que danificam as camadas acima. A capacidade de suporte precisa ser adequada à carga que será recebida. Na execução, os erros comuns são compactar com excesso de umidade e a sobrecompactação, conhecida também como supercompactação, que é o excesso de passadas do rolo compactador. Isto faz com que o solo, quando já está compactado e com todos os quase todos os seus vazios já preenchidos, sofra o processo de descompactação pela continuidade do impacto do cilindro vibratório.

2.      Produção do concreto asfáltico: o material asfáltico produzido precisa ser homogêneo e com os agregados totalmente cobertos pelo ligante asfáltico (CAP). Os cuidados precisam ser tomados desde a alimentação dos agregados. Estes devem estar com pouca umidade, pois o excesso diminui a produção da usina. O agregado com umidade acima do tolerado também afeta a mistura com o ligante asfáltico (CAP), resultando em massa de má qualidade, apresentando bolhas oriundas da evaporação que provocam o surgimento de cavidades internas. O sistema de dosagem da usina precisa também ser extremamente preciso para que não haja distorções no traço da mistura. Recomenda-se que o sistema de secagem e mistura da usina de asfalto seja o mais eficiente possível.

3.      Mesa compactadora desregulada: ao iniciar a pavimentação, a vibroacabadora precisa estar com sua mesa compactadora regulada. É imprescindível que a mesma já esteja aquecida, pois em temperatura mais baixas o asfalto acaba aderindo a suas chapas alisadoras, provocando arrastamento do asfalto e segregação do material. A abertura da extensão hidráulica precisa ser regulada, de modo que não deixe marcas no asfalto e que não haja diferenças de inclinação. A foto abaixo mostra um exemplo de falta de regulagem na abertura hidráulica da mesa, com um risco na junção da parte da mesa fixa com a parte aberta, em ambos os lados. Também há segregação de material na parte central.

4.      Falta de nivelamento na pavimentação: queixa mais comum da população e dos leigos em pavimentação em geral. Quem nunca trafegou por uma rua totalmente desnivelada ou cheia de ondulações que provocam desconforto e perigo para os condutores? Geralmente ocorrem por má-execução da pavimentação. As pavimentadoras (vibroacabadoras) de asfalto possuem sistemas de nivelamento de simples uso e baixo custo. Porque não são utilizadas? Porque não se exige, principalmente em pavimentação urbana, cujos serviços são na maior parte das vezes realizados “na coxa” e com fiscalização deficiente.

Abaixo, um exemplo de sistema de nivelamento utilizado. O esqui mecânico faz a cópia da referência na pista já pavimentada e automaticamente mantém a mesa compactadora com os mesmos parâmetros de inclinação.

 

5.      Espessura adequada da camada asfáltica: Problema que ocorre principalmente em pavimentação urbana. Espessura fina em trechos de tráfego pesado, assim como camadas espessas em locais de baixo tráfego. As camadas de base precisam também ter a espessura adequada, para a correta transferência das cargas do tráfego.

A contratação de consultoria especializada para o correto dimensionamento pode evitar futuros retrabalhos e desperdício de verba pública. Em grandes cidades, o ideal é que vias de tráfego pesado intenso, corredores de ônibus e sistemas de BRT sejam de pavimentos de concreto, de grande durabilidade e maior vida útil.
 

6.      Compactação asfáltica: é a etapa em que muitos erros de aplicação ocorrem. São tantos e inúmeros os erros cometidos que irei escrever um tópico a parte. Entre os principais, o acionamento do sistema vibratório do cilindro na junta da faixa quente com a faixa fria, ocasionando quebra dos agregados do asfalto já frio. A foto abaixo mostra como fica um pavimento asfáltico com agregados da mistura triturados do lado esquerdo da junta entre as faixas pavimentadas.

 

O controle da temperatura do asfalto é muito importante, pois não deve ser utilizada a compactação vibratória com temperatura inferior a 100°C. Se a temperatura estiver próxima, o recomendado é que se passe somente o rolo de pneus.
 

7.     Fresagem do pavimento deteriorado: o recomendado é que seja avaliada a condição do pavimento. Em muitos casos uma simples fresagem da camada deteriorada é o suficiente. Porém, em outros casos o nível de degradação é tão alto que as camadas de base estão igualmente comprometidas. Dessa forma, é preciso uma intervenção de reciclagem do pavimento. Atualmente há diversas soluções técnicas para a reabilitação asfáltica, tais como a reciclagem a frio in-situ com a utilização de máquinas recicladoras. Outra solução é a reutilização de material fresado em usina para a produção de concreto asfáltico a quente (CBUQ).

Um erro comum é pavimentar uma nova camada sobre o asfalto degragado. As trincas e rachaduras se propagam para a nova camada, cuja vida útil acaba sendo bastante encurtada.

 
 
8.      Compatibilidade com obras de drenagem e saneamento: é preciso compatibilizar projetos e, principalmente, a execução. Vazamentos em tubulações que geram grandes buracos comprometem toda a pavimentação aplicada acima. É muito comum as concessionárias de água e energia abrirem rombos no asfalto para a execução de determinado serviço e depois remendarem de maneira bastante precária. Outro problema bastante frequente é o desnivelamento em bueiros, podendo ocasionar danos aos veículos e acidentes aos usuários da via.
 

 

 

 

 

 

 

 

8 comentários:

  1. Numa pesquisa do Google sobre a máquina fresadora de asfalto, acabei tropeçando no teu blog. Não trabalho nessa área mas como me interesso por de tudo um pouco fui navegando aqui pelos artigos. Tenho uma questão a colocar, na camada base é normal ela ser molhada depois de ser compactada com o vibrocompactador? Na zona onde trabalho (zona portuária)estão fazendo uma obra de reabilitação do asfalto e estão depois de ler alguns artigos fiquei com essa dúvida.

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  2. Olá Satai,

    Após a compactação da camada de base ou do próprio solo não é comum molhar. Em alguns casos, a camada é molhada antes. Isto em regiões extremamente secas, onde a falta de umidade acaba prejudicando a compactação. Uma pequena película de água entre as partículas reduz o atrito interno entre as partículas e favorece o rearranjo das mesmas de forma a preencher os vazios internos, atingindo maior grau de compactação. No entanto, não podemos molhar em excesso. Se o material for coesivo, a água fica retida e acaba prejudicando o adensamento do material.

    O que é comum depois da compactação da base é um caminhão espargidor aplicar emulsão asfáltica, que serve para promover a aderência da camada de base com o material asfáltico que será aplicado.

    Abraço

    Juliano

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  3. Olá Juliano,

    Obrigado pela sua resposta, foi muito esclarecedora.

    Abraço.
    Satai

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  4. Olá Dr. Juliano.

    Gostaria de agradecer imensamente por suas postagens esclarecedoras sobre qualidade e tecnologia na construção e manejo de asfaltos no seu blog ASFALTO DE QUALIDADE.

    Tenho algumas perguntas:

    Na minha região está sendo recuperada, pela primeira vez, uma estrada que foi feita a três décadas. Tenho acompanhado a obra desde o início e observei o seguinte: Em trechos mais danificados do asfalto antigo foi feita uma nova terraplanagem por cima da estrada velha, sem que para isso o asfalto anterior fosse retirado ou sofresse qualquer intervenção. Também não houve, em trechos menos degradados, a fresagem do asfalto. Nesses locais está sendo feita a limpeza do local e um recapeamento por cima do material antigo. Em outros trechos foi feito um calçamento de paralelepípedos, para completar a largura da estrada, e está sendo aplicado o asfalto sobre este calçamento.

    Pergunto: estes procedimentos estão corretos? Haverá longevidade para esta obra? Segundo minha descrição, esta obra pode ser considerada uma RECONSTRUÇÃO da estrada?

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  5. Esse blog é show! Uma grande ajuda no meu trabalho sobre pavimentação! Obrigada, e parabéns!

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  6. Boa tarde Juliano;

    Li o seu blog que é muito bem feito, porém possuo uma dúvida na qual nunca encontrei uma resposta. Quando vamos efetuar um recapeamento e no processo de fresagem surgem panelas, asfalto desagregado, ou seja, partes com buracos, sem asfalto. Qual deve ser, ou é, o procedimento correto quanto ao tratamento deles para posterior recapeamento, ou não é necessário fazer nada. Agradeço sua atenção.

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  7. qual a porcentagem máxima de água que pode ter o agregado antes de ser usado na mistura asfáltica e qual a norma?

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