O Brasil ainda
não despertou sobre os benefícios técnicos e financeiros a respeito do
reaproveitamento do material asfáltico reciclado (RAP, do inglês Reclaimed
Asphalt Pavement), que é o asfalto removido através da fresagem da camada
asfáltica. Como o próprio termo em inglês indica, o material é considerado um insumo
reciclável.
DEFASAGEM
TÉCNICA NA EXECUÇÃO DA FRESAGEM
A etapa de
remoção de pavimentos através da fresagem costuma ter baixa produtividade no
Brasil. O tempo de execução das obras poderia ser mais rápido caso a fresagem
tivesse uma forma de execução com maior produtividade. Os serviços de
recuperação de pavimentos poderiam ter mais quilômetros executados dentro da
programação semanal ou mensal caso alguns procedimentos fossem seguidos.
SELEÇÃO DO
EQUIPAMENTO
O Brasil é um
dos últimos países do mundo onde se utilizam fresadoras de pneus para fresagem
de pavimentos em rodovias. É um ótimo equipamento para aplicação dentro de
cidades e em obras de menor porte, mas em rodovias possui baixa produtividade.
Os pneus apresentam área de contato mínima com o pavimento, o que resulta em
baixa força de tração. Isto influencia diretamente sobre a força aplicada ao
corte no pavimento.
As fresadoras
de asfalto com locomoção sobre esteiras costumam apresentar mais de 40% de
rendimento, mesmo utilizando um tambor de corte com a mesma largura. Outra
dificuldade com as fresadoras de locomoção sobre rodas é a descarga traseira do
material. Além da dificuldade para o operador, o caminhão que recolhe o
material asfáltico fresado precisa se locomover em marcha a ré. Isto ocasiona
colisões frequentes, como no exemplo abaixo.
VELOCIDADE DE
AVANÇO DE ACORDO COM A PROFUNDIDADE
A velocidade
de avanço varia conforme o modelo de fresadora, a profundidade de trabalho, o
estado de conservação da camada asfáltica e o tipo de mistura asfáltica que
compõe o pavimento. Fresadoras com alta potência de motor e maior largura
costumam ter produção altíssima. No exemplo abaixo, uma fresadora com tambor de
corte de 2,20 metros de largura consegue avançar 16 metros por minuto ao cortar
uma espessura de 6,3 centímetros.
FATORES DE
PRODUÇÃO
Além da
correta seleção do modelo de fresadora de asfalto, alguns fatores precisam ser
levados em consideração alcançar alta produção na fresagem de pavimentos. A
performance da fresagem não pode ser determinada apenas pela velocidade de
execução. Outros fatores podem reduzir a produtividade:
1.
Tipo de cilindro de fresagem:
·
Cilindros de fresagem fina e microfresagem
possuem maior número de ferramentas de corte, destinadas para fresagens mais
superficiais. Para fresagens acima de 5 centímetros, acabam criando maior
resistência ao corte, diminuindo a velocidade de avanço.
2.
Tipo da ferramenta de corte (bit):
·
Existe no mercado inúmeros modelos de bits, como
são conhecidas as ferramentas de corte montadas no tambor das fresadoras. É
preciso testar e buscar identificar quais são os bits que se adaptam melhor ao
tipo de aplicação (profundidade, dureza do asfalto, etc).
3.
Nível de dureza do asfalto:
·
A fresagem em camadas asfálticas deterioradas
apresenta maior velocidade de avanço do que em camadas mais bem preservadas.
Misturas asfálticas com maior presença de agregados graúdos (exemplo: SMA)
também representa maior resistência ao corte, afetando a velocidade de avanço e
por consequência a produção.
4.
Temperatura da camada asfáltica:
·
No Brasil não costuma ser um problema, por
termos um clima tropical. Porém quando a temperatura está inferior a 15°C, o
nível de dureza é maior. No exterior, é considerado que em temperaturas entre
0°C e 15°C, pode ocorrer uma diminuição na performance entre 5% e 10%. Entre
15°C e 30°C é considerado uma faixa de temperatura ideal. Acima de 30°C, o
asfalto mais quente apresenta menor resistência, aumentando a produção da
fresagem.
5.
Logística da obra:
·
Não basta ter apenas a fresadora. É preciso
programar a logística de caminhões para remoção do RAP.
6.
Experiência do operador:
·
Colocar um operador inexperiente e sem o devido
treinamento também é um fator que pode diminuir a performance da fresagem.
Operadores capacitados e experientes entregam maior produção.
REUTILIZAÇÃO
DO MATERIAL FRESADO (RAP)
O
reaproveitamento do material asfáltico fresado ainda é muito baixo no Brasil.
Por uma série de razões, somos um país onde o RAP é quase que totalmente descartado,
sem ter a devida reutilização.
Por sermos um
país protecionista, as construtoras brasileiras estão há décadas dependendo da indústria
nacional de equipamentos para equipar a sua frota. Por outro lado, os
fabricantes brasileiros acabam produzindo equipamentos que atendam às
necessidades técnicas local. É um círculo vicioso, sem a devida inovação e sem acompanhar
a evolução que ocorre no restante do mundo. Importar uma usina de asfalto de
outros países sempre foi muito caro, devido aos impostos de importação
aplicados para proteger os produtos nacionais.
Um dos maiores
atrasos da indústria nacional de equipamentos é o baixo reaproveitamento do RAP
na produção de novas misturas asfálticas à quente. Embora os fabricantes
brasileiros tenham sido comprados por grupos internacionais, as configurações
das usinas de asfalto comercializadas continuam abrangendo um baixo percentual
de uso do RAP. Este material não pode ser adicionado como um agregado virgem,
por ter a presença de ligante asfáltico em sua composição. As altas
temperaturas do tambor secador de uma usina afetariam o ligante asfáltico, por
isso o RAP precisa ser introduzido e aquecido de uma maneira diferente.
O fabricante norte-americano
ASTEC fez a nacionalização de um modelo de usina de asfalto que permite um alto
percentual de RAP na mistura, de até 30%. Com a instalação de um módulo a parte
com silo, peneira vibratória, ponte de pesagem e correia transportadora, o RAP
ingressa no tambor secador em um compartimento localizado após a passagem dos
agregados virgens pelo queimador, onde as temperaturas são inferiores. Desta
maneira o RAP é aquecido pela passagem por este compartimento e pelo contato
com os agregados virgens, antes da mistura ser executada com a adição do
cimento asfáltico de petróleo (CAP). O tambor tem comprimento suficiente para
que a secagem e aquecimento ocorra de maneira gradual e eficiente, assim como
gerando economia de combustível pelo alto comprimento, sem necessidade de aumentar
a potência da chama para secar e aquecer os materiais.
A economia com o reuso do RAP é considerável. Nos Estados Unidos, quando se utiliza 20% de RAP na produção de novas misturas asfálticas, a economia costuma ficar próximo de 15%.
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