sexta-feira, 30 de abril de 2021

Fresagem asfáltica e reaproveitamento do RAP

 


O Brasil ainda não despertou sobre os benefícios técnicos e financeiros a respeito do reaproveitamento do material asfáltico reciclado (RAP, do inglês Reclaimed Asphalt Pavement), que é o asfalto removido através da fresagem da camada asfáltica. Como o próprio termo em inglês indica, o material é considerado um insumo reciclável.

 

DEFASAGEM TÉCNICA NA EXECUÇÃO DA FRESAGEM

A etapa de remoção de pavimentos através da fresagem costuma ter baixa produtividade no Brasil. O tempo de execução das obras poderia ser mais rápido caso a fresagem tivesse uma forma de execução com maior produtividade. Os serviços de recuperação de pavimentos poderiam ter mais quilômetros executados dentro da programação semanal ou mensal caso alguns procedimentos fossem seguidos.

 

SELEÇÃO DO EQUIPAMENTO

O Brasil é um dos últimos países do mundo onde se utilizam fresadoras de pneus para fresagem de pavimentos em rodovias. É um ótimo equipamento para aplicação dentro de cidades e em obras de menor porte, mas em rodovias possui baixa produtividade. Os pneus apresentam área de contato mínima com o pavimento, o que resulta em baixa força de tração. Isto influencia diretamente sobre a força aplicada ao corte no pavimento.

As fresadoras de asfalto com locomoção sobre esteiras costumam apresentar mais de 40% de rendimento, mesmo utilizando um tambor de corte com a mesma largura. Outra dificuldade com as fresadoras de locomoção sobre rodas é a descarga traseira do material. Além da dificuldade para o operador, o caminhão que recolhe o material asfáltico fresado precisa se locomover em marcha a ré. Isto ocasiona colisões frequentes, como no exemplo abaixo.


VELOCIDADE DE AVANÇO DE ACORDO COM A PROFUNDIDADE

A velocidade de avanço varia conforme o modelo de fresadora, a profundidade de trabalho, o estado de conservação da camada asfáltica e o tipo de mistura asfáltica que compõe o pavimento. Fresadoras com alta potência de motor e maior largura costumam ter produção altíssima. No exemplo abaixo, uma fresadora com tambor de corte de 2,20 metros de largura consegue avançar 16 metros por minuto ao cortar uma espessura de 6,3 centímetros.



FATORES DE PRODUÇÃO

Além da correta seleção do modelo de fresadora de asfalto, alguns fatores precisam ser levados em consideração alcançar alta produção na fresagem de pavimentos. A performance da fresagem não pode ser determinada apenas pela velocidade de execução. Outros fatores podem reduzir a produtividade:

 

1.       Tipo de cilindro de fresagem:

·         Cilindros de fresagem fina e microfresagem possuem maior número de ferramentas de corte, destinadas para fresagens mais superficiais. Para fresagens acima de 5 centímetros, acabam criando maior resistência ao corte, diminuindo a velocidade de avanço.


2.       Tipo da ferramenta de corte (bit):

·         Existe no mercado inúmeros modelos de bits, como são conhecidas as ferramentas de corte montadas no tambor das fresadoras. É preciso testar e buscar identificar quais são os bits que se adaptam melhor ao tipo de aplicação (profundidade, dureza do asfalto, etc).


3.       Nível de dureza do asfalto:

·         A fresagem em camadas asfálticas deterioradas apresenta maior velocidade de avanço do que em camadas mais bem preservadas. Misturas asfálticas com maior presença de agregados graúdos (exemplo: SMA) também representa maior resistência ao corte, afetando a velocidade de avanço e por consequência a produção.

 

4.       Temperatura da camada asfáltica:

·         No Brasil não costuma ser um problema, por termos um clima tropical. Porém quando a temperatura está inferior a 15°C, o nível de dureza é maior. No exterior, é considerado que em temperaturas entre 0°C e 15°C, pode ocorrer uma diminuição na performance entre 5% e 10%. Entre 15°C e 30°C é considerado uma faixa de temperatura ideal. Acima de 30°C, o asfalto mais quente apresenta menor resistência, aumentando a produção da fresagem.

 

5.       Logística da obra:

·         Não basta ter apenas a fresadora. É preciso programar a logística de caminhões para remoção do RAP.

 

6.       Experiência do operador:

·         Colocar um operador inexperiente e sem o devido treinamento também é um fator que pode diminuir a performance da fresagem. Operadores capacitados e experientes entregam maior produção.


REUTILIZAÇÃO DO MATERIAL FRESADO (RAP)


O reaproveitamento do material asfáltico fresado ainda é muito baixo no Brasil. Por uma série de razões, somos um país onde o RAP é quase que totalmente descartado, sem ter a devida reutilização.

Por sermos um país protecionista, as construtoras brasileiras estão há décadas dependendo da indústria nacional de equipamentos para equipar a sua frota. Por outro lado, os fabricantes brasileiros acabam produzindo equipamentos que atendam às necessidades técnicas local. É um círculo vicioso, sem a devida inovação e sem acompanhar a evolução que ocorre no restante do mundo. Importar uma usina de asfalto de outros países sempre foi muito caro, devido aos impostos de importação aplicados para proteger os produtos nacionais.

Um dos maiores atrasos da indústria nacional de equipamentos é o baixo reaproveitamento do RAP na produção de novas misturas asfálticas à quente. Embora os fabricantes brasileiros tenham sido comprados por grupos internacionais, as configurações das usinas de asfalto comercializadas continuam abrangendo um baixo percentual de uso do RAP. Este material não pode ser adicionado como um agregado virgem, por ter a presença de ligante asfáltico em sua composição. As altas temperaturas do tambor secador de uma usina afetariam o ligante asfáltico, por isso o RAP precisa ser introduzido e aquecido de uma maneira diferente.

O fabricante norte-americano ASTEC fez a nacionalização de um modelo de usina de asfalto que permite um alto percentual de RAP na mistura, de até 30%. Com a instalação de um módulo a parte com silo, peneira vibratória, ponte de pesagem e correia transportadora, o RAP ingressa no tambor secador em um compartimento localizado após a passagem dos agregados virgens pelo queimador, onde as temperaturas são inferiores. Desta maneira o RAP é aquecido pela passagem por este compartimento e pelo contato com os agregados virgens, antes da mistura ser executada com a adição do cimento asfáltico de petróleo (CAP). O tambor tem comprimento suficiente para que a secagem e aquecimento ocorra de maneira gradual e eficiente, assim como gerando economia de combustível pelo alto comprimento, sem necessidade de aumentar a potência da chama para secar e aquecer os materiais.

A economia com o reuso do RAP é considerável. Nos Estados Unidos, quando se utiliza 20% de RAP na produção de novas misturas asfálticas, a economia costuma ficar próximo de 15%.