domingo, 27 de outubro de 2013

Asfalto sobre paralelepípedos: um erro



Colocar uma camada de asfalto sobre uma rua de paralelepípedos é uma prática muito comum nas cidades de todo o Brasil. O asfalto traz mais conforto e segurança para os veículos que trafegam na via.
Porém, a troca do paralelepípedo pelo asfalto não é feita da forma adequada. Tecnicamente, o correto seria remover todos os paralelepípedos, compactar o solo abaixo, construir uma camada granular intermediária e por fim aplicar o asfalto.
A prática mais comum, infelizmente, é pavimentar com asfalto sem se importar com o que há abaixo. Um erro que pode gerar sérias consequências a médio e longo prazo. As razões, resumidamente, são duas: a má-compactação do solo abaixo e a impossibilidade técnica de futuras manutenções.
As ruas de paralelepípedo das cidades geralmente foram construídas sobre finas camadas de areia colocadas acima do terreno natural. São comuns os afundamentos e os desníveis em função da falta de compactação abaixo dos paralelepípedos. O crescimento e o desenvolvimento da cidade geram o aumento do tráfego na via, e por consequência, há aumento da carga sobre o pavimento. A foto abaixo é um exemplo. 
 
Quando o asfalto é aplicado sobre o paralelepípedo existente, não há uma preocupação sobre reforço da camada de base. Assim, problemas existentes serão escondidos por debaixo da camada asfáltica.
Uma vez colocado sobre os paralelepípedos, manutenções futuras ficam seriamente comprometidas. A mistura asfáltica, ao longo do tempo, sofrerá um envelhecimento natural pelas ações do tráfego, do sol, da chuva, etc. As técnicas modernas para manutenção viária são a fresagem do pavimento, que é remoção do asfalto danificado através de corte e trituração, ou a técnica da reciclagem a frio da camada, que se dá através de corte, trituração, mistura, homogeneização e reforço com 100% de reutilização do material existente com uma única passada do equipamento, a Recicladora de Asfalto. Mesmo com a simples remoção através de fresagem, o material asfáltico cortado e triturado pode ser reaproveitado na produção de asfalto novo em uma Usina de Asfalto, o que é ambientalmente correto.
Com uma camada composta por blocos retangulares de rocha maciça, tanto a fresagem quanto a reciclagem ficam impossibilitadas de serem executadas. Dessa forma, como realizar a manutenção quando o asfalto envelhecer? Como (mal) exemplo, em Porto Alegre a “solução” adotada é aplicar remendos mal feitos quando começam a surgir buracos. O resultado é um pavimento totalmente sem nivelamento, desconfortável, inseguro e propenso a acumular água em dias chuvosos.
 
 
 
Com a presença do paralelepípedo abaixo do asfalto, fica impossível fresar o asfalto ou reciclar o pavimento. Como praticamente não há controle das espessuras aplicadas, não é possível saber a profundidade exata que a fresadora de asfalto deve trabalhar para remover o asfalto danificado. Se a máquina fresadora encontrar os paralelepípedos, há risco de ocorrer sérios danos físicos a mesma.
Quais seriam as melhores soluções?
Os pavimentos com paralelepípedos são ecologicamente corretos, pois possuem um espaçamento que faz com que a água escoe e penetre no solo, evitando alagamentos. O material retém menos calor em comparação com o asfalto e o pavimento de concreto, e devido a sua maior resistência, não geram buracos e rachaduras, com durabilidade incomparável. As ruas de centros históricos e bairros residenciais, vias de baixa velocidade de tráfego, deveriam ser compostos por paralelepípedos. A aplicação deve ser executada da maneira correta, com a devida compactação do sub-leito para evitar futuros afundamentos e desníveis.
Já as vias de maior tráfego, como avenidas e ruas principais de um bairro, deveriam ser construídas em asfalto. Se há paralelepípedo existente, este deve ser removido a reaproveitado em outra obra. Dependendo do tipo de material que é composto o paralelepípedo, este pode ser triturado em um britador e gerar materiais granulares para utilização em camadas de base, na construção civil, etc.
Outro problema que surge ao colocar asfalto sobre o paralelepípedo é a falta de imprimação para que haja aderência entre os mesmos. É questão de tempo para o asfalto se desprender, como nos exemplos abaixo. Na primeira foto, a compactação do asfalto com pouca imprimação. A segunda foto, o asfalto se desprendendo. 
 
 
 
A camada de base granular é tecnicamente a melhor opção. Intermediária entre o solo natural do local e o asfalto, permite versatilidade em futuras manutenções. Por exemplo: se determinada via apresenta um grande crescimento em seu tráfego, com ônibus e caminhões pesados circulando, é preciso reforçar o pavimento. Uma Reciclagem a Frio com adição de cimento garante é uma ótima solução para reforçar este pavimento, de maneira rápida e reaproveitando todo o material existente. Por outro lado, se o asfalto sofre desgaste e não há necessidade de reforçar o pavimento, bastaria remover o asfalto danificado através da fresagem e aplicar uma nova camada asfáltica.
O que não pode acontecer é o que tem ocorrido com muita frequência em muitas cidades do Brasil. Serviços totalmente sem planejamento e tecnicamente sem fundamento. Não há um projeto de pavimentação e as soluções são apenas a curtíssimo prazo. Ruas repletas de remendos, buracos, desníveis e outras armadilhas viraram rotina para milhões de brasileiros.