Colocar uma camada de asfalto sobre
uma rua de paralelepípedos é uma prática muito comum nas cidades de todo o
Brasil. O asfalto traz mais conforto e segurança para os veículos que trafegam
na via.
Porém, a troca do paralelepípedo pelo
asfalto não é feita da forma adequada. Tecnicamente, o correto seria remover
todos os paralelepípedos, compactar o solo abaixo, construir uma camada
granular intermediária e por fim aplicar o asfalto.
A prática mais comum, infelizmente, é
pavimentar com asfalto sem se importar com o que há abaixo. Um erro que pode
gerar sérias consequências a médio e longo prazo. As razões, resumidamente, são
duas: a má-compactação do solo abaixo e a impossibilidade técnica de futuras
manutenções.
As ruas de paralelepípedo das cidades
geralmente foram construídas sobre finas camadas de areia colocadas acima do
terreno natural. São comuns os afundamentos e os desníveis em função da falta
de compactação abaixo dos paralelepípedos. O crescimento e o desenvolvimento da
cidade geram o aumento do tráfego na via, e por consequência, há aumento da
carga sobre o pavimento. A foto abaixo é um exemplo.
Quando o asfalto é aplicado sobre o
paralelepípedo existente, não há uma preocupação sobre reforço da camada de
base. Assim, problemas existentes serão escondidos por debaixo da camada
asfáltica.
Uma vez colocado sobre os
paralelepípedos, manutenções futuras ficam seriamente comprometidas. A mistura
asfáltica, ao longo do tempo, sofrerá um envelhecimento natural pelas ações do
tráfego, do sol, da chuva, etc. As técnicas modernas para manutenção viária são
a fresagem do pavimento, que é remoção do asfalto danificado através de corte e
trituração, ou a técnica da reciclagem a frio da camada, que se dá através de
corte, trituração, mistura, homogeneização e reforço com 100% de reutilização
do material existente com uma única passada do equipamento, a Recicladora de
Asfalto. Mesmo com a simples remoção através de fresagem, o material asfáltico
cortado e triturado pode ser reaproveitado na produção de asfalto novo em uma
Usina de Asfalto, o que é ambientalmente correto.
Com uma camada composta por blocos
retangulares de rocha maciça, tanto a fresagem quanto a reciclagem ficam
impossibilitadas de serem executadas. Dessa forma, como realizar a manutenção
quando o asfalto envelhecer? Como (mal) exemplo, em Porto Alegre a “solução”
adotada é aplicar remendos mal feitos quando começam a surgir buracos. O
resultado é um pavimento totalmente sem nivelamento, desconfortável, inseguro e
propenso a acumular água em dias chuvosos.
Com a presença do paralelepípedo
abaixo do asfalto, fica impossível fresar o asfalto ou reciclar o pavimento.
Como praticamente não há controle das espessuras aplicadas, não é possível
saber a profundidade exata que a fresadora de asfalto deve trabalhar para remover
o asfalto danificado. Se a máquina fresadora encontrar os paralelepípedos, há
risco de ocorrer sérios danos físicos a mesma.
Quais seriam as melhores soluções?
Os pavimentos com paralelepípedos são
ecologicamente corretos, pois possuem um espaçamento que faz com que a água
escoe e penetre no solo, evitando alagamentos. O material retém menos calor em
comparação com o asfalto e o pavimento de concreto, e devido a sua maior
resistência, não geram buracos e rachaduras, com durabilidade incomparável. As
ruas de centros históricos e bairros residenciais, vias de baixa velocidade de
tráfego, deveriam ser compostos por paralelepípedos. A aplicação deve ser
executada da maneira correta, com a devida compactação do sub-leito para evitar
futuros afundamentos e desníveis.
Já as vias de maior tráfego, como
avenidas e ruas principais de um bairro, deveriam ser construídas em asfalto.
Se há paralelepípedo existente, este deve ser removido a reaproveitado em outra
obra. Dependendo do tipo de material que é composto o paralelepípedo, este pode
ser triturado em um britador e gerar materiais granulares para utilização em
camadas de base, na construção civil, etc.
Outro problema que surge ao colocar
asfalto sobre o paralelepípedo é a falta de imprimação para que haja aderência
entre os mesmos. É questão de tempo para o asfalto se desprender, como nos
exemplos abaixo. Na primeira foto, a compactação do asfalto com pouca
imprimação. A segunda foto, o asfalto se desprendendo.
O que não pode acontecer é o que tem
ocorrido com muita frequência em muitas cidades do Brasil. Serviços totalmente
sem planejamento e tecnicamente sem fundamento. Não há um projeto de
pavimentação e as soluções são apenas a curtíssimo prazo. Ruas repletas de
remendos, buracos, desníveis e outras armadilhas viraram rotina para milhões de
brasileiros.