Serviços de construção, manutenção e
reabilitação viária, este último também conhecido como recapeamento ou
recapagem, são essenciais para melhorar a qualidade de vida da população. No
entanto, precisam ser realizadas da maneira correta.
As estradas, ruas e avenidas sofrem
um processo natural de envelhecimento e desgaste. A deterioração de pavimentos
asfálticos geram transtornos a população. Para solucioná-las, muitas vezes são
executados serviços sem planejamento técnico adequado, de resultado final ruim
que gera retrabalho e prejuízos financeiros.
É preciso repensar a forma com quem
as obras de pavimentação e recapeamento são realizadas em todo o Brasil. É
imprescindível que o serviço seja de qualidade, tanto no projeto quanto na
execução.
Muitos cuidados precisam ser tomados
em todas as etapas construtivas. Selecionei alguns problemas que vivenciei como
engenheiro de aplicação e que são bastante comuns em obras de pavimentação pelo
Brasil:
1.
Compactação de base: etapa em que omissões e falta de
cuidados são frequentes e notórios. Uma compactação mal executada pode resultar
em afundamentos que danificam as camadas acima. A capacidade de suporte precisa
ser adequada à carga que será recebida. Na execução, os erros comuns são
compactar com excesso de umidade e a sobrecompactação, conhecida também como
supercompactação, que é o excesso de passadas do rolo compactador. Isto faz com
que o solo, quando já está compactado e com todos os quase todos os seus vazios
já preenchidos, sofra o processo de descompactação pela continuidade do impacto
do cilindro vibratório.
2.
Produção do concreto asfáltico: o material asfáltico produzido
precisa ser homogêneo e com os agregados totalmente cobertos pelo ligante
asfáltico (CAP). Os cuidados precisam ser tomados desde a alimentação dos
agregados. Estes devem estar com pouca umidade, pois o excesso diminui a
produção da usina. O agregado com umidade acima do tolerado também afeta a
mistura com o ligante asfáltico (CAP), resultando em massa de má qualidade, apresentando
bolhas oriundas da evaporação que provocam o surgimento de cavidades internas. O
sistema de dosagem da usina precisa também ser extremamente preciso para que
não haja distorções no traço da mistura. Recomenda-se que o sistema de secagem
e mistura da usina de asfalto seja o mais eficiente possível.
3.
Mesa compactadora desregulada: ao iniciar a pavimentação, a
vibroacabadora precisa estar com sua mesa compactadora regulada. É
imprescindível que a mesma já esteja aquecida, pois em temperatura mais baixas
o asfalto acaba aderindo a suas chapas alisadoras, provocando arrastamento do
asfalto e segregação do material. A abertura da extensão hidráulica precisa ser
regulada, de modo que não deixe marcas no asfalto e que não haja diferenças de
inclinação. A foto abaixo mostra um exemplo de falta de regulagem na abertura
hidráulica da mesa, com um risco na junção da parte da mesa fixa com a parte
aberta, em ambos os lados. Também há segregação de material na parte central.
4.
Falta de nivelamento na pavimentação: queixa mais comum da população e dos
leigos em pavimentação em geral. Quem nunca trafegou por uma rua totalmente
desnivelada ou cheia de ondulações que provocam desconforto e perigo para os
condutores? Geralmente ocorrem por má-execução da pavimentação. As pavimentadoras
(vibroacabadoras) de asfalto possuem sistemas de nivelamento de simples uso e
baixo custo. Porque não são utilizadas? Porque não se exige, principalmente em
pavimentação urbana, cujos serviços são na maior parte das vezes realizados “na
coxa” e com fiscalização deficiente.
Abaixo, um
exemplo de sistema de nivelamento utilizado.
O esqui mecânico faz a cópia da referência na pista já pavimentada e
automaticamente mantém a mesa compactadora com os mesmos parâmetros de
inclinação.
5.
Espessura adequada da camada
asfáltica: Problema
que ocorre principalmente em pavimentação urbana. Espessura fina em trechos de
tráfego pesado, assim como camadas espessas em locais de baixo tráfego. As
camadas de base precisam também ter a espessura adequada, para a correta
transferência das cargas do tráfego.
A
contratação de consultoria especializada para o correto dimensionamento pode
evitar futuros retrabalhos e desperdício de verba pública. Em grandes cidades,
o ideal é que vias de tráfego pesado intenso, corredores de ônibus e sistemas
de BRT sejam de pavimentos de concreto, de grande durabilidade e maior vida
útil.
6.
Compactação asfáltica: é a etapa em que muitos erros de aplicação
ocorrem. São tantos e inúmeros os erros cometidos que irei escrever um tópico a
parte. Entre os principais, o acionamento do sistema vibratório do cilindro na
junta da faixa quente com a faixa fria, ocasionando quebra dos agregados do
asfalto já frio. A foto abaixo mostra como fica um pavimento asfáltico com
agregados da mistura triturados do lado esquerdo da junta entre as faixas
pavimentadas.
O controle da temperatura do asfalto
é muito importante, pois não deve ser utilizada a compactação vibratória com
temperatura inferior a 100°C. Se a temperatura estiver próxima, o recomendado é
que se passe somente o rolo de pneus.
7. Fresagem do pavimento deteriorado: o recomendado é que seja avaliada a
condição do pavimento. Em muitos casos uma simples fresagem da camada
deteriorada é o suficiente. Porém, em outros casos o nível de degradação é tão
alto que as camadas de base estão igualmente comprometidas. Dessa forma, é
preciso uma intervenção de reciclagem do pavimento. Atualmente há diversas
soluções técnicas para a reabilitação asfáltica, tais como a reciclagem a frio in-situ com a utilização de máquinas
recicladoras. Outra solução é a reutilização de material fresado em usina para
a produção de concreto asfáltico a quente (CBUQ).
Um erro
comum é pavimentar uma nova camada sobre o asfalto degragado. As trincas e
rachaduras se propagam para a nova camada, cuja vida útil acaba sendo bastante
encurtada.
8.
Compatibilidade com obras de drenagem
e saneamento: é
preciso compatibilizar projetos e, principalmente, a execução. Vazamentos em
tubulações que geram grandes buracos comprometem toda a pavimentação aplicada
acima. É muito comum as concessionárias de água e energia abrirem rombos no
asfalto para a execução de determinado serviço e depois remendarem de maneira
bastante precária. Outro problema bastante frequente é o desnivelamento em
bueiros, podendo ocasionar danos aos veículos e acidentes aos usuários da via.